Atraso de dois anos eleva custo da transposição e prejudica economia das cidades de Custódia e Sertânia
TRANSPOSIÇÃO: Atraso prejudica economia de duas cidades do Sertão |
O atraso está fazendo aumentar o custo
da transposição do Rio São Francisco. Iniciada em agosto de 2007, a
obra deveria estar concluída até o final de dezembro deste ano, segundo
previsão dada no início do ano pelo Ministério da Integração Nacional.
Em janeiro, o valor informado era de R$ 6,8 bilhões. Agora, já chega a
R$ 8,2 bilhões. A nova meta do Ministério da Integração Nacional é 2015.
É o que mostra a última reportagem da série do NETV 2ª Edição, sobre a
transposição, que deve abastecer quase quatrocentos municípios
nordestinos.
A meta é levar água do Rio São Francisco
a municípios de quatro estados: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande
do Norte, por dois canais de concreto, chamados de eixo norte e eixo
leste. Os recursos são empregados em escavações e construção de
barragens, estações de bombeamento e canais por onde nunca correu uma
gota de água. Apesar disso, a presença – e agora, mais ainda, a ausência
– dos trabalhadores das construtoras e dos militares encarregados do
serviço mexem com a vida nas cidades. Nove mil operários chegaram a
atuar nas obras.
A seca e a paralisação estão afetando também o comércio de cidades do Sertão pernambucano.
Custódia é uma das cidades que mais
cresceram com a transposição. Mas o dinheiro já não circula tanto porque
a obra está parada. "O período em que estava em todo o movimento foi
muito favorável para os moradores . Foi aquele fluxo grande, a gente
não estava preparado, e hoje a gente está sentindo necessidade daquele
retorno, daquele movimento. De qualquer maneira, todo mundo quis
reformar sua casa, todo mundo quis comprar seu carro, sua moto", conta o
comerciante Francisco de Assis dos Santos.
Em Sertânia, o comércio amarga a
decadência. Empresários como Flávia Lopes tentam se enquadrar nas
mudanças da economia. Donos de várias lojas, ela e o marido investiram
na reforma de um hotel de olho nos funcionários de empresas que chegavam
por causa da transposição. Não deu tempo: as construtoras foram embora,
fazendo sofrer donos de supermercados, padarias, lojas em geral. "Nossa
expectativa é que a obra retorne, o mais depressa possível, para que a
gente possa ver renda na cidade", conta Flávia.Houve um tempo em que os
próprios moradores do município também foram às compras, mas isso é
passado. Os clientes recuaram, não têm condições de comprar móveis,
eletrodomésticos, roupa. Todo o dinheiro que entra é para comida, ração
para os animais e água. Os comerciantes, inclusive, criaram um nome para
a época do mês em que não conseguem vender nada: é a semana das trevas.
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