Audiência destaca novos desafios com transposição do São Francisco
Iara Guimarães Altafin | 06/11/2014, 15h42 - ATUALIZADO EM 06/11/2014, 19h01
O secretário executivo do Ministério da Integração Nacional, Irani Braga Ramos, ao lado do senador Benedito de Lira, relatou esforço para proteção de nascentes e manutenção dematas cilia |
A conclusão das obras de transposição das águas do Rio São Francisco, prevista para o final de 2015, colocará em evidência novos desafios, como a necessidade de revitalização do rio, capacitação de gestores locais para operar o sistema e racionalização do uso da água que chegará a 400 municípios.
Os próximos passos a serem enfrentados pelo poder público foram destacados em audiência nesta quinta-feira (6) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). Com o debate, a comissão dá prosseguimento às atividades de acompanhamento da política de recursos hídricos para o semiárido nordestino.
Senadores que participaram do debate, como Acir Gurgacz (PDT-RO), Ana Amélia (PP-RS) e Kaká Andrade (PDT-SE), manifestaram preocupação como a redução da vazão do rio São Francisco e a seca em suas nascentes. Em resposta, o secretário executivo do Ministério da Integração Nacional, Irani Braga Ramos, informou que foram gastos R$ 4 bilhões com obras de revitalização do rio, com ênfase na proteção de nascentes e manutenção de matas ciliares.
— Existe grande preocupação do governo federal, mas é um esforço permanente. Cada vez que cuidamos de uma nascente ou melhoramos a margem em um pedaço do rio, percebemos que precisamos fazer mais em outra nascente ou em outro trecho maior de margem — disse Ramos.
Desafios após a conclusão das obras também foram apontados por Carlos Motta Nunes, da Agência Nacional de Águas. Para ele, a transposição fará com que a água deixe de ser um fator limitante ao desenvolvimento da região, mas exigirá dos gestores locais capacitação para atuar dentro da nova realidade.
— Com a transposição, a água será entregue nos açudes e poderá deixar de ser fator limitante. Haverá necessidade de adaptação do gestor, que poderá liberar água para outros fins, sem risco de deixar a população à deriva — disse Nunes, ao observar os efeitos da transposição sobre as atividades produtivas.
Já José Silvério da Silva, do Ministério da Agricultura, citou preocupação com a limitação dos recursos hídricos e a necessidade de que sejam utilizados com eficiência e racionalidade.
— A disponibilidade de água hoje é a mesma de 2 mil anos atrás. No entanto, 2 mil anos atrás a população era equivalente a 3% da população atual. Nos últimos 30 anos, o consumo de água cresceu duas vezes mais que o crescimento populacional, ou seja, a demanda está sendo muito grande, sendo necessário racionalizar seu uso — frisou.
Irrigação
Preocupação com uso da água para irrigação foi manifestada por Ana Amélia e Fleury (DEM-GO). Em resposta, o secretário executivo do Ministério da Integração Nacional explicou que o projeto foi concebido para abastecimento humano em áreas urbanas, abrangendo 400 cidades do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.
No entanto, observou Irani Ramos, quando o abastecimento urbano estiver garantido, açudes e outros reservatórios até então destinados a esse fim poderão ser usados para irrigação e outras atividades produtivas.
Nessa situação, será essencial o uso de tecnologias que aumentem a eficiência da irrigação, conforme afirmou José Silvério. A média brasileira, disse, é de 14 mil metros cúbicos de água por hectare por ano, acima da média mundial, que é de 10 mil metros cúbicos de água por hectare por ano.
— Estamos com eficiência de 45%. Se dobrarmos essa eficiência, podemos reduzir para sete mil metros cúbicos por hectare/ano, ou seja, vai sobrar muita água para outros usos — disse.
A demanda por água para irrigação tende a ser crescente, uma vez que o aumento de produção de alimentos deverá estar majoritariamente apoiado em cultivos irrigados, conforme dados apresentados por pelo representante do Ministério da Agricultura. Para reduzir a pressão por água no Nordeste, ele sugere a ampliação do uso de plantas nativas, que são mais resistentes à seca.
Ao comentar novas demandas por água que podem surgir com a transposição, o senador Kaká Andrade se disse preocupado com a manutenção das atividades já existentes ao longo do rio.
— Poderemos sofrer colapso nos projetos de irrigação, por conta de um rio São Francisco agonizante — lamentou, ao citar problemas como o assoreamento do rio, a queda de sua navegabilidade e a grande redução da atividade pesqueira.
O presidente da CRA, senador Benedito de Lira (PP-AL), manifestou intenção de promover uma visita de parlamentares às obras de transposição do São Francisco, sendo apoiado por Acir Gurgacz e outros senadores. Ao saudar o avanço do projeto, Benedito observou que as obras estão sendo concluídas sem registros de graves acidentes com operários, à exceção de um caso isolado em Alagoas.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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