Copa mexe com humor do brasileiro, mas não decide eleição
Por - iG Brasília
A Copa do Mundo anda mexendo com o humor dos políticos na capital federal e pelos Estados. A preocupação, entretanto, não está associada a nenhum fanatismo pelo futebol peculiar a esse grupo. Há na classe política quem acredite que o resultado do Mundial deverá ter efeitos marcantes no processo eleitoral, criando uma torcida toda especial entre aqueles que ocupam as chefias dos executivos pela seleção. Na opinião de cientistas políticos, porém, a influencia da Copa do Mundo não deverá ser tão grande.
O professor Cláudio Couto, cientista político da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, é enfático em dizer que a Copa do Mundo não deve exercer a influência no processo eleitoral que os políticos projetam. “Influência decisiva, de modo algum. Pode até ter alguma influência, mas muito tênue”, diz ele. “Uma vitória deixa as pessoas mais felizes, mais animadas. Uma derrota, ao contrário. Mas não creio que isso leve o eleitor a optar de uma forma determinada. A avaliação entre governo e desempenho da seleção é feita de forma separada pelas pessoas”, declara Couto.
Retrospecto
Desde a abertura política e da volta do período democrático no Brasil, a relação entre vitórias da seleção em Copas do Mundo foi inversamente proporcional ao sucesso de um presidente da República em se reeleger ou fazer seu sucessor. A única exceção aconteceu em 1994, quando Itamar Franco era o presidente e seu ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito na esteira do plano Real. A partir daí, eleição e Copa do Mundo passaram a trilhar caminhos diferentes.
1994 | Brasil é campeão | FHC, candidato da situação, vence a eleição |
1998 | Brasil é 2º colocado, perde para a França | FHC é reeleito |
2002 | Brasil é campeão | Serra é derrotado por Lula |
2006 | Brasil é eliminado nas quartas de final pela França | Lula é reeleito |
2010 | Brasil é eliminado nas quartas de final pela Holanda | Dilma, candidata da situação, vence a eleição |
Em 1998, o Brasil perdeu a Copa e Fernando Henrique foi reeleito. Em 2002, o Brasil foi campeão, mas Fernando Henrique não pode fazer José Serra (PSDB) seu sucessor. A oposição faturou a disputa com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2006, mais uma vez a seleção foi derrotada, para a França nas quartas de final do torneio, mas Lula não teve problemas para bater o tucano Geraldo Alckmin. Em 2010, mais um fracasso do Brasil em Copas do Mundo, derrota para a Holanda também nas quartas de final, ao mesmo tempo em que Lula obtinha sucesso na tarefa de eleger sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff (PT).
Diante desse histórico, a cientista política, Maria do Socorro Sousa Braga, da UFSCar, credita outros aspectos atuando no processo. “Para mim, outras variáveis, como aspectos econômicos e políticos, têm maior peso do que a Copa do Mundo”, resume ela. “Só o fenômeno Copa do Mundo não explica o êxito de um presidente que está no poder (em fazer seu sucessor). Existem variáveis contextuais. Por exemplo, em 1998, Fernando Henrique consegue obter um impulso baseado no primeiro mandato. Ele tinha o respaldo da estabilidade econômica, do Plano Real. São coisas que não se verificaram no segundo mandato”, avalia Maria do Socorro.
Sucesso fora de campo
Empresa que atua com pesquisas de mercado, entre outras coisas, a Expertise realizou levantamento com internautas para saber qual a percepção que as pessoas têm sobre os impactos do resultado da Copa do Mundo sobre o eleitor. A apuração mostra que 54,6% dos entrevistados não acreditam em influências decisivas do torneio sobre o voto em outubro. Christian Reed falou a respeito do levantamento e admitiu alguma surpresa com o resultado.
Segundo Reed, não é exatamente o sucesso em campo que pode determinar a influência do torneio sobre o eleitorado. “A não ser que tenhamos um contexto parecido com aquele que tivemos em 2013, durante a Copa das Confederações, de explosão social, manifestações”, pondera ele. “Tirando isso, se o Brasil ganhar ou não, se a Copa for um sucesso de organização, terá pouca influência no eleitor”, acrescenta ele. A opinião de Reed é partilhada por Couto. “O que pode ter alguma influência é a organização do evento. Vamos comparar, se fosse por exemplo uma olimpíada, a posição no quadro de medalhas não seria importante para o eleitor”, diz ele.
Campanha na TV
Além de relativizar e até questionar os efeitos da Copa do Mundo sobre as eleições, os cientistas políticos destacam que entre o fim do torneio e o dia da eleição, há uma lacuna de tempo que deverá esfriar possíveis sentimentos gerados pelo futebol. “Acho que há uma distância muito grande entre a final da Copa e o dia da eleição. São três meses, 90 dias, é muito tempo”, declara o professor Antonio Flávio Testa, cientista político da Universidade de Brasília. “Não creio que a Copa do Mundo vai decidir as eleições”, opina ele.
“Nesses três meses, começa mesmo a campanha, o horário eleitoral no rádio e na TV. É o momento em que os políticos, os marqueteiros vão trazer o eleitor para a eleição”, diz Maria do Socorro. “(Nesse período) o eleitor começa a prestar atenção em outra coisa. Quem gosta de futebol volta a prestar atenção no Campeonato brasileiro. Aí entra a propaganda eleitoral e se intensifica a atenção das pessoas para a eleição”, completa Couto.
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